Almas entrelaçadas e convergidas pelo olhar etnográfico

Por Simone Orlando

     Muitas vezes quando começamos um trabalho não sabemos onde ele vai dar. O primeiro semestre letivo da UFRRJ em 2015 teve início em meados de março. Para os oito corajosos e curiosos participantes do Laboratório de Convergência I, nas tardes de terça-feira, pretendíamos somente experimentar uma reflexão a respeito da modernização do jornalismo e seus desdobramentos.

     Não tínhamos pretensão de fazer trabalho de campo, nem de observar nada de perto. Iríamos somente pensar sobre o assunto, colher materiais digitais e analisar cases na mídia publicados. Era essa a intenção inicial. 

     Mas como o espaço de ensino e aprendizado é feito de pessoas e de trocas, esse grupo inicial deu mais do que uma “liga” para o bolo que iríamos fazer juntos. Colocaram bastante fermento, pelo seu entusiasmo, pela dedicação, pela parceria! Estavam lá, inteiros e atentos, a todo momento, Caíque Pereira, Beatriz Rodrigues, Brenno Farias, Karen Carvalho, Jean Mendes, Nathália Barros, Luana Pires, Thiago Silva.

     Logo no nosso segundo encontro, a partir de uma discussão em cima de um texto que analisava a modernização do jornal Extra (RJ), alguém (realmente não me lembro de quem partiu) disse:  — Poxa, seria ótimo olhar para isso de perto, é tão interessante!  E esse foi o ponto de partida de nossa saga. Decidimos tentar visitar alguma redação de jornal para olhar o fenômeno da convergência e da inovação. E conseguimos. Conseguimos muito mais do que isso. Visitamos diversos veículos, dentre os quais se destacam os Jornais Extra, Dia, Meia-Hora e O Globo, nos meses de abril a julho.

Convergentes


     Entre almoços, planejamento de cobertura, caronas em carros exprimidos para Seropédica, boas conversas, risadas e cantorias, havia a surpresa do inesperado a cada lugar que visitávamos. A proposta do trabalho: produzir um olhar etnográfico, que pudesse contemplar a espontaneidade do que se observava.

     A cada visita, crescíamos nessa percepção. Chegávamos nas redações sempre por volta de meio-dia, horário em que o movimento é menor, e nos espalhávamos após ganhar a confiança dos condutores (os jornalistas que nos atendiam). Chegávamos perto de um e de outro, perguntávamos o que faziam, esperávamos para ver algo interessante acontecer e nos chamar a atenção. Fotografávamos, filmávamos e anotávamos o que podíamos.

     E foi assim que conseguimos, despretensiosamente, conversar com  editorialistas, ver o trabalho de coleta de dados em watshapp, acompanhar o início do fechamento de capas, observar cartunistas trabalhando em ilustrações. Verificamos como se realiza hoje a pesquisa de imagem, o acervo fotográfico, acompanhamos de longe reuniões de pauta, olhamos atentamente a criação das equipes de infografia. Conversamos com fotógrafos, diagramadores, designers, repórteres, editores, vídeomakers, gestores de mídias sociais e conteúdo para mobile.

     
     No balanço desse processo, a nossa documentação não ficou ideal, pela falta de qualidade sonora e audiovisual dos registros. Perdemos coisas pelo caminho. Priorizamos a experiências. 

     E, na interação com os profissionais, não podemos deixar de agradecer algumas pessoas. Nossa eterna gratidão aos jornalistas Marlos Mendes e Eduardo Pierre do Jornal O Dia, Fábio Gusmão e José Maurício Costa do Jornal Extra, Sidinei Nunes do Jornal Meia-Hora, Aydano Motta e Chico Otávio, do Jornal O Globo. 

     Mas nossa jornada não parou por aí. Semestre finalizado, ainda ganhamos um presente da UFRRJ: o apoio para visitarmos algumas redações de São Paulo. A universidade cedeu o ônibus e o motorista, sr. Paulo, e também deu apoio na hospedagem e alimentação, num hostel muito charmoso no bairro Paraíso.

     E foi aí que, em agosto de 2015, fomos parar nas redações dos jornais Folha de SP, Estadão e das revistas Carta Capital e Super Interessante. A pró-reitora de assuntos financeiros da universidade, professora Nídia Majerowicz, e o diretor do ICHS, Ricardo de Oliveira, foram decisivos na realização dessa viagem. Sem a intervenção deles não teríamos conseguido.

     Éramos 17 almas pensantes e errantes, com a missão de visitar quatro veículos em três dias. Ficamos exaustos, mas, ao mesmo tempo, “adrenalinados” por tudo que vimos e vivemos. E foi uma linda experiência que nos uniu e agregou mais pessoas. 

     A viagem a São Paulo acolheu um grupo bem maior, composto pelos alunos do laboratório, estudantes da disciplina de metodologia científica e formandos em pesquisa de campo. Os professores Jupy Júnior e Cristiane Venâncio nos acompanharam nessa empreitada, além do grupo “éramos oito” já citado. 

     A família convergente cresceu e agregou os alunos Bruna Fernandes, Carolina Feijó, Gian Cornachini, Samara Costa, Victor Senna e Carolina Danelli. Formamos, assim, uma trupe animada e perambulante pelas ruas e bairros da terra da garoa. Além do aluno Victor Ohana, que nos acompanhou à revista Carta Capital. Alunos de Letras e a professora Maria do Rosário Roxo dividiram conosco as poltronas do ônibus, o papo bom e a estadia, o que tornou tudo muito mais agradável.

No ônibus da UFRRJ, a caminho de São Paulo.


Grupo que viajou, em clima amistoso no AKI Hostel.

     Em Sampa, a experiência foi diferente. É fato: os paulistas são mais profissionais, mais pontuais, organizados. Com o planejamento de três meses, agendamos todas as entrevistas e visitas.  O jornal Folha de SP, nossa primeira parada, não pudemos fotografar (regras internas).

Jornal Folha de São Paulo

     Mas fomos generosamente acolhidos por Melina Cardoso (que depois nos acompanhou até o metrô), repórter e editora da TV Folha, André Felipe, editor-adjunto da TV Folha, Ygor Sales, editor de redes sociais do veículo e Marcelo Soares, membro da equipe de novas plataformas da TV Folha. Em uma palestra de quase três horas nos ensinaram muito sobre a modernização da profissão.

     A próxima parada, no dia seguinte, foi a Carta Capital. Fomos recebidos pelo jornalista Sérgio Lírio, que nos deu um pouco do seu tempo para aprendermos mais sobre as mazelas do jornalismo atual. Um pouco cansado e calejado pela profissão, Lírio conversou conosco por quase uma hora. Não menos importante foi a inesperada chegada de Mino Carta, à redação, fato que criou comoção e alvoroço em todos os alunos.  A editora-chefe da TV Carta, Clarice Cardoso, também conversou conosco. Ao final, Mino nos brindou com seu humor e sabedoria.

Revista Carta Capital

    
 Na parte da tarde, o destino foi o Jornal O Estado de SP. Lá, fomos recebidos pelo editor executivo de conteúdos digitais do Estadão, Luis Fernando Bovo. Com generosidade e paciência, Bovo ficou conosco por umas 4 horas mostrando toda a redação.  Também entrevistamos Filipe Araújo que nos contou um pouco sobre o funcionamento da TV Estado.

Jornal O Estado de São Paulo

     O último destino foi a revista Superinteressante. Denis Russomano nos recebeu no imponente prédio da Editora Abril, para um bate-papo.

Revista Superinteressante


A segunda parte da jornada


     No final do mês de agosto, o início do segundo semestre letivo. Lá estávamos nós, com a oferta do Laboratório de Convergência II, 20 alunos inscritos, e um novo projeto à vista. 

     A família convergente ganhou novos ares com a presença de Allan Rabello, Ana Caryne Daris, Ananda catarino, Camile Cortezini, Cecília Damasceno, Flávia Fabrício, Gabriela Maia, Kathellen Costa, Larissa Bozi, Luis Henrick Teixeira, Marina Montesano, Milena Antunes e Thais Moura. 

     No começo pensamos: vamos aproveitar todo o material que coletamos e fazer um documentário etnográfico dessa experiência. Depois vimos que tínhamos muito material, mas com problemas de sonorização, por terem sido filmados em máquinas fotográficas, sem microfone externo.



Alunos do Lab. II de Convergência em reunião de pauta.

     Por fim, decidimos criar um portal para discutir os rumos da inovação no jornalismo. Fizemos diversas reuniões de pauta e decidimos juntos o logo, nome, formato, matérias principais, seções. Daí surgiu o Convergência em Cena, democraticamente escolhido pela maioria.
    
     A intenção seria transformar esse site num espaço de metajornalismo, focado nos rumos da profissão, a partir dos novos modos de domínio das linguagens, narrativas, ferramentas e dispositivos.

     E se você gostar desse tema, colabore, interaja, faça parte da família convergente da UFRRJ ●