Ping-pong com Denis Russo Burgierman

Em entrevista ao nosso site, Denis Russo Burgierman, editor-chefe da revista, fala sobre inovações e ferramentas adotadas para conquistar um público cada mais conectado ● Por Bruna Somma e Beatriz Rodrigues



      Dennis Russo Burgierman não é um jornalista que se deixa levar pela correnteza do senso comum. Politizado e defensor das causas sociais, é engajado naquilo que se propõe a fazer. Tanto é que participa da comunidade mundial TED, dá aulas na Eise (Escola de Inovação e Serviços) e é membro da Rede Pense Livre – por uma política de drogas que funcione. O questionamento sobre as reais consequências dessas substâncias, no entanto, é permanente em seu imaginário e foi o estopim para o desenvolvimento de seu livro “O fim da guerra”, que trata do futuro da licitação das drogas. Pai da Aurora, Dennis afirma que seu hobby preferido é andar de bicicleta. Sempre pedala entre uma coisa e outra. Não é por acaso que ele é editor-chefe da revista da Revista Superinteressante, que possui forte teor ideológico e linha editorial bem definida. Tudo possui uma justificativa. Tudo possui um porquê.

      A revista tem 28 anos de existência e possuiu um olhar atento à ciência, tecnologia e também à cultura. Seu objetivo sempre foi abordar assuntos densos sob uma perspectiva divertida e didática, que desmistificasse os padrões já existentes. A “Super”, como é carinhosamente chamada, possui historicamente esse pioneirismo pela luta de um conhecimento democrático e acessível a todos. Não poderia ser diferente: o sucesso é arrebatador. Sua tiragem é de 400 mil exemplares, seu site possui três milhões e meio de visitantes e sua página do Facebook apresenta mais de três milhões de curtidas. Segundo pesquisa da consultoria Top Brands, a Superinteressante é a marca de revista mais querida do Brasil. Para garantir a fidelização destes leitores, nos últimos anos, a redação passou por algumas transformações. A transmidialidade foi uma delas.

Convergência em Cena: Uma das características da revista Superinteressante é experimentar diferentes linguagens. Há dez anos vocês fazem narrativas transmídias. São pioneiros nessa mudança. O que motivou esse processo?

Denis Russo Burgierman: Começamos a perceber que nesse mundo novo, os assuntos ficam vivos por mais tempo e que o potencial de disseminar aquilo que fazemos é muito maior do que jamais foi. É a era de ouro da produção de conteúdo. Nunca se teve tanta possibilidade de fazer narrativas tão complexas e que atingissem tantas pessoas. Acho que esses atributos de experimentação e de inovação foram transformando a “Super” em uma marca cada vez mais relevante. É um luxo essa possibilidade de ficar experimentando com linguagens e mídias novas e ter um público que já se identifica com a nossa marca, que já está a fim de saber das coisas que a gente tem para contar. Existe uma pré-disposição pelos conteúdos que produzimos. Temos uma oportunidade imensa de disseminar essas coisas. O nosso negócio é vender revista e a gente propôs essas experimentações transmídias para ampliar a experiência de quem lê a revista, mas também para trazer gente nova para o nosso mundo. Continuamos experimentando com plataformas, linguagens e jeitos de fazer as coisas, mas o nosso negócio continua sendo a revista, nosso time está sempre voltado para revista. Quando você pensa no século XXI, acho que nenhuma marca editorial brasileira cresceu tanto no imaginário das pessoas e como negócio como nossa revista cresceu. A “Super” é, hoje, um dos principais títulos da Abril.

Convergência em Cena: A Superinteressante também é premiada por seus infográficos e pelo seu projeto editorial inovador. Quando e como começou o processo de convergência e de valorização do design na revista?

Denis Russo Burgierman: Foi no comecinho do século XXI, quando a gente fez um movimento, que na época nem refletimos o que estávamos fazendo e que, hoje, vejo que foi uma primeira integração cultural. Foi quando decidimos integrar design e texto na revista. Passamos a acreditar que o design das páginas é tão informação quanto o que está escrito nelas. A “Super” começou a entender que seus designers são tão autores da revista e tão influentes e com poder de decisão sobre o que a gente publica, quanto a figura dos editores. Para nós, tal mudança fazia sentido porque as pessoas consomem informação de jeitos diferentes: algumas são mais visuais, outras mais textuais. Queríamos uma revista que apelasse a todos os sentidos, ao mesmo tempo. Quando as possibilidades de fazer coisas digitais foram aparecendo, para nós, essa ideia de integrar culturas e de criar coisas novas a partir da soma de culturas, já existia. É assim que inovação acontece. Quando você põe duas culturas rigorosas para conviver, surge uma terceira: a inovação. Então, o que a gente fez foi simplesmente colocar mais profissionais nesses times. Acrescentamos um programador, um webmaster e um webdesigner.

“O nosso negócio é vender revista e a gente propôs essas experimentações transmídia para ampliar a experiência de quem lê a revista, mas também para trazer gente nova para o nosso mundo”.
– Denis Russo Burgierman, editor-chefe da Superinteressante. 


CEC: Para acompanhar as mudanças que ocorrem no campo do jornalismo, vocês tiveram que passar por algumas adaptações. Quais foram elas? E quais são as técnicas que utilizam para atrair e fidelizar cada vez mais leitores?

DRB: Estamos nos planejando e incorporando novas técnicas em nossa rotina para fazer esse movimento. Por exemplo, passar por treinamentos para aprendermos coisas que ainda não sabemos, como as ferramentas de ranqueamento do SEO e Google Analitics, que são úteis para esse mundo novo. Somos gerentes de uma marca editorial, que gosta de falar sobre conhecimento e sobre seus vários desdobramentos e, por esse motivo, temos que compartilhar isso em infinitas plataformas. Nosso conteúdo vai ser destinado, primeiramente, para a revista e depois para os livros impressos ou digitais. Nós publicamos uns 10 livros por ano e são todos Best-sellers. Vão para o DossiêSuper –  revista monotemática que publicamos uma vez por mês – vão para internet e para as redes sociais (no Facebook, no Instagram, no Twitter, no Periscope). Vão para mil lugares diferentes, para qualquer oportunidade que encontrarmos.

CEC: O audiovisual tem sido usado para complementar o processo narrativo. Desta forma, alimenta as redes sociais e cria uma identificação com a marca. Ele tem uma regularidade e tende a crescer? Como se configura esse processo?

DRB: Sim, ele é importante para a gente. A partir desse ano, começamos a produzir consistentemente esse material. Os vídeos têm uma característica parecida com os textos da revista: o trabalho de explicar coisas, de ajudar a entender, conciliando, em doses iguais, seriedade com diversão, leveza com profundidade. Isso está fazendo um baita sucesso. Já começamos a fazer reportagens também. A gente pegou nossa repórter, que faz matéria para a revista, e em vez dela se dedicar em fazer conteúdo para o impresso, foi encarregada de produzir conteúdo audiovisual. Cada vez mais, nós vamos ver que temos mais escolhas, mais possibilidades. Ao longo desse ano, tivemos um momento em que estávamos postando quase que um vídeo por dia. Boa parte não tinha conteúdo denso. Tivemos um momento, há quatro meses, que todo mundo começou a produzir muito vídeo. Isso não foi por acaso, foi o Facebook que decidiu que iria ser assim. O Facebook ligou e avisou: “Olha, iremos começar a dar mais visualização para quem produzir vídeo. Se você produz pelo menos dois vídeos por semana, vai perceber ganho de audiência”. E o poder que essa rede social tem hoje em dia para determinar o jeito que tudo funciona é imenso e fez com que todos seguissem essa orientação, e a começar, de repente, a produzir muito mais vídeos. E efetivamente aconteceu o que o Facebook falou.


“O vídeo é quase um ponto de encontro com outra pessoa. Tem uma força do audiovisual que não pode ser reproduzida na revista e tem uma força na revista que não pode ser reproduzida no audiovisual”.
– Denis Russo Burgierman, editor-chefe da Superinteressante. 

CEC: Como fica a questão da colaboratividade desse leitor, receptor e internauta? Talvez em uma ajuda na sugestão e na construção de pauta, na normatização e produção de conteúdo ou existe um outro papel para eles no jornalismo de vocês?

DRB: A “Super” tem uma tradição antiga de dar muita importância a essa relação com o público. Todo leitor é tão importante quanto o resto do time. E isso não é demagogia, e sim, uma norma que realmente projetamos em nossa cultura. A gente está, a todo tempo, tentando se colocar no lugar subjetivo do leitor. Estou dizendo isso porque se chegam dez e-mails pedindo a pauta X, acham que temos que dar essa pauta porque tantas pessoas pediram. Não é bem isso. A gente não costuma fazer pesquisas, do tipo “que pauta você quer ver na Super? ”, porque a gente quer surpreender as pessoas. Tenho quase certeza que essa pesquisa acabaria ganhando uma ideia do que as pessoas achariam legal responder, mas não vai surpreendê-las e não vão ficar tão empolgadas assim quando aparecer na revista. A gente quer que saia algo que eles não esperem. Então, a nossa relação é muito mais tentar entender os leitores. O nosso ponto de partida é aquilo que a gente presume ser a curiosidade do nosso público. Nossos colaboradores, que são muitos e nossos braços direitos, falam: “Olha que assunto legal, quero fazer uma matéria sobre isso, topam? ”. Geralmente é assim. O número de matérias de ciência surpreendentes e instigantes que chegam para gente, principalmente as coisas mais exatas de matemática, é menor do que eu gostaria que fosse. E é isso, vocês estão todos estudando jornalismo e imagino que, muito provavelmente, nenhum de vocês tenha uma formação mais aprofundada em ciências e em exatas. Ou talvez não tenham um interesse muito grande nessa área. É raro essa figura, um cara que gosta e entenda matemática e que escreva bem. É uma pena, porque essa figura, para nós, é ouro!

CEC: Como funciona o trabalho dos colaboradores na Superinteressante? São jornalistas, na maioria, ou são especialistas em alguma área? 

DRB: Nós temos colaboradores de várias áreas. Temos colaboradores ilustradores e fotógrafos. As pessoas que fazem as apurações dos textos da “Super” são, na maioria, jornalistas. A gente tem um esforço ativo de buscar gente que não seja jornalista para colaborar porque a gente quer ter uma diversidade, diferença de vozes. Então queremos ter pessoas contando suas próprias histórias também. A gente tem a história de uma médica que dois dias antes dela se formar ela caiu da escada, teve uma fratura no cóccix. Desde então, ela passou por seguidas cirurgia. Hoje ela tem uma dor crônica, terrível, que ela não para de sentir e que não é efeito do tombo, e sim, das cirurgias. Ela foi descobrir que era um erro médico super comum e que existem milhares de pessoas que passam por isso. O principal motivo é que a cirurgia que é feita, que dá pouco resultado e que às vezes causa esse tipo de problema, é caríssima. Então, existe um incentivo dos médicos continuarem receitando essa cirurgia, embora ela não funcione. Ela contou essa história.  Foi uma história muito bem escrita. Essa mulher é médica pela formação, mas, ela não quer mais atuar na profissão. Tudo que é difícil e denso sobre medicina a gente passa para a Fernanda, colaboradora frequente nossa. É claro que tem várias coisas básicas de jornalismo que temos que explicar para ela.

CEC: A linguagem é muito parecida entre uma reportagem e outra. Os recursos de humor e ironia também estão em sincronia. Como isso ocorre? Como vocês pensam isso no texto? 

DRB: A gente acha que a “Super” tem uma personalidade. Se a revista fosse uma pessoa, como é que ela seria? Apesar do absurdo da pergunta, quase todo mundo sabe responder. A “Super” tem uma personalidade e que traduziu em algumas palavras o que é essa história de ser séria e divertida ao mesmo tempo, de ser leve e profunda ao mesmo tempo.  Mas não é simples. A revista não é isso e pronto. Outros projetos são mais fáceis de definir. Quatro rodas é uma revista sobre carros, Capricho é uma revista para adolescentes, a “Super” eu sei lá o que é. Ela é mais difícil de definir porque ela é mais complexa. Ela tem uma quantidade muito grande de interesses, uma voz que não é nem infantil e nem adulta, ela é informal. Ela tem uma coisa de escrevermos do jeito como a conversamos. A gente escreve para ser entendido e para entreter. Então, eu acho que essa personalidade é compreendida pelos colaboradores. Todo mundo entende isso. Até quem normalmente não escreve assim se imbui desse espírito. E tem nossos editores que nos dão a aprovação final. Eu falo que não quero que eles apareçam em todas as matérias. Eu quero que eles deixem os autores das matérias aparecerem. Mas é que a tentação é grande também das pessoas se colocarem nas matérias. E talvez padronize um pouco mais do que a gente deseja. Mas tem uma alma da “Super” que é o que você sente, o que está em todas as matérias, está no texto e está no design. O ser sério mas não tão sério e o fazer piada devem estar a favor da informação 

Ping-pong com Denis Russo Burgierman

Convergência no jornalismo

Os desdobramentos e consequências do fenômeno da convergência na prática jornalística ● Por Camile Cortezini e Milena Antunes



      
Convergência, do latim, convertere, “virar, transformar”, de com, “junto”, mais vertere, “virar, torcer”. E nos dicionários da língua portuguesa significa “direção comum para o mesmo ponto”, tender, dirigir-se (para um ponto comum). Concorrer, afluir (ao mesmo lugar). Tender (para o mesmo objetivo). Porém, pensar a temática da convergência na área da Comunicação é algo mais complexo.

      Vamos começar pelo que há de mais conhecido no meio: a obra “Cultura da Convergência” (Editora Aleph, 2008) de Henry Jenkins. O autor aborda o tema em três diferentes perspectivas. A noção de Convergência midiática, para ele, não deve ser compreendida apenas como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos, mas como um fenômeno que alterou as relações entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e público. Já o termo Convergência corporativa diz respeito à concentração de poder das grandes empresas que conseguem acumular muitos meios (jornal impresso, telejornalismo, plataformas online, entre outros) e são encarregadas da administração, tomada de decisões e domínio dessas mídias. Convergência cultural, por sua vez, remete-se à expressão “cultura participativa” e exclui a ideia de colocar produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados. Na verdade, para esse autor, receptores interagem de forma ativa e participam da produção de conteúdo nesse processo.

      Para o professor acadêmico e comunicador Ramón Salaverría, no entanto, o fenômeno é multidimensional. A convergência jornalística se refere a um processo de união de meios de comunicação que afeta o meio empresarial, as tecnologias, os profissionais e o público em todas as fases de produção, distribuição e consumo de conteúdos de qualquer tipo. Na opinião do teórico, em entrevista ao jornal português Público, a Internet aparece como o único suporte capaz de integrar os diferentes conteúdos de todos os meios de comunicação social (rádio, TV e imprensa).  

      Fato é que a convergência dos meios de comunicação e das novas formas de produção de conteúdo atingiu em larga escala o fazer jornalístico. Logo, convergir não se resume a unir plataformas e linguagens ao narrar. O fazer jornalístico se tornou mais convergente, tanto nas práticas de produção de pauta, apuração, redação e edição, como nas relações de trabalho. 


Narrativa convergente


     Narrativa convergente ou hipermídia/ multimídia é aquela que se desenvolve através de uma mesma plataforma utilizando recursos multimídia (ver o verbete elementos da multimídia), cada qual contribuindo de forma complementar para narrar um mesmo conteúdo. No universo jornalístico, esse tipo de narrativa vem sendo muito utilizada como estratégia de maior alcance de público. Esse novo meio de narrar é possível graças ao atual aparato de redes midiáticas que são capazes de estender as experiências a respeito de um mesmo assunto.


A gente é arte e texto, a gente é digital e impresso, a gente é tudo ao mesmo tempo”.
– Luís Fernando Bovo, diretor de mídias sociais do Estadão. 



     Essa nova proposta de narrativa prende mais a atenção do leitor porque interage melhor com ele, torna a relação mais simples e exige menos tempo voltado para leitura, já que todo contexto é dotado de diversos recursos em áudio, imagens, texto escrito e vídeo, tornando a comunicação ainda mais completa e expansiva. Numa sociedade em que o tempo anda escasso, esse novo modo de organizar as informações é muito válido, importante e necessário para o jornalismo.


No portal G1, é comum que as matérias contenham
imagens, vídeos e hiperlinks no decorrer do texto.
Outros modos de convergir


     O modo de fazer jornalístico foi reconfigurado pelo processo de convergência, também no sentido de recuperação de múltiplos conteúdos em diversas plataformas diferentes. O nome dado a esse tipo de convergência é a prática crossmidia, quando um mesmo conteúdo ou afim/ correlato pode ser disponibilizado em celulares, tablets, computadores e outros aparelhos ao mesmo tempo, mesmo que em perspectiva on demand, remotamente. 

     Explorada sobretudo na internet, essa convergência de conteúdos representa uma fusão de funções dessas mídias, onde uma, além de complementar a outra, serve como meio equivalente, de acordo com as condições, contextos e necessidades do receptor. Ou seja, o público alvo do jornal X tem a possibilidade de fazer a leitura no conforto de casa, no computador, assim como no trabalho ou na rua, utilizando um smartphone.

     “As editorias não fazem mais essa diferenciação de para onde o jornalista está mandando o conteúdo dele. O que é muito legal, é que o conteúdo fica uniforme. A editoria decide como ela vai cobrir aquele assunto e aquilo é espalhado para todos as plataformas”, afirmou o jornalista Luís Fernando Bovo, em entrevista aos alunos de jornalismo da UFRRJ, na sede do jornal Estado de SP.

     Nas redações, o reflexo desse fenômeno é cada vez mais evidente. Agora a preocupação está em satisfazer os leitores desses diferentes meios com a mesma linguagem, além da necessidade de adequar o conteúdo para todos as plataformas, o que demanda tempo e um trabalho muito mais complexo.  

     “O que acontecia antes é que quando você tinha dois times trabalhando, o papel fazia uma coisa e a internet fazia outra. Agora, quando vamos discutir uma cobertura grande, por exemplo, pensamos em como vamos cobrir em todas as plataformas. Como é que vai ser essa visualização no celular? Como é que vai ser essa visualização no site? A visualização nos aparelhos é muito diferente, você perde muito mais tempo discutindo isso do que como é que vai ser a cobertura no papel”, completou o jornalista.

     Nesse caso, além de conteúdo, há a convergência das funções dos dispositivos de mídia. Os smartphones são os melhores exemplos, uma vez que se tornaram verdadeiras versões compactas e simplificadas de computadores, televisão e rádio.


Novas formas de apuração


     As formas de apurar também mudaram. Novas possibilidades foram criadas a partir do novo contexto em que a convergência nos colocou. Hoje, um jornalista recebe informações pelo celular, vídeos e áudios em tempo real, logo depois dos fatos ocorridos. Entrevistas também podem ser feitas através dos celulares, e-mail e chamadas de vídeo. Essa nova perspectiva reestruturou a prática de apuração jornalística tornando o contato com fontes ou documentos muito mais simples e rápida de modo que as reportagens são produzidas e difundidas em tempo recorde. 
WhatsApp do Jornal Extra.

     No Estadão, por exemplo, o WhatsApp é usado como ferramenta de apuração. O jornalista Luís Bovo fala sobre a produção da notícia: “o WhatsApp também facilitou muito isso hoje, você tem uma participação quase instantânea do leitor. (...) Mas não é porque você já recebeu no WhatsApp que aquilo é uma informação, você tem que checar se aquilo é real ou não real, porque tá cheio de gente armando, aprontando, mandando informação falsa então você tem que checar isso.” 

     Além do WhatsApp, outros aplicativos de celular e diversas ferramentas facilitaram muito o trabalho de apuração, entretanto isso não diminui a responsabilidade e o comprometimento do jornalista com a informação e sua veracidade. Ele ainda se configura no lugar de gatekeeper, quem seleciona e estrutura o conteúdo.


O fazer jornalístico: novas relações de trabalho


     A convergência não se manifestou apenas na esfera tecnológica mas interferiu também nas relações de trabalho do profissional. Se antes o trabalho era dividido entre diferentes jornalistas, cada um com domínio em determinado assunto, agora o profissional precisa se especializar nas múltiplas funções. Até porque no mundo digital tornou-se mais fácil e necessário aprender a trabalhar com programas, dominar aplicativos, manusear câmeras, fotografar, filmar, editar, entre outras coisas. 

     “Todo jornalista precisa fazer vídeo, precisa fazer entrevista, precisa saber escrever, precisa saber mexer com dados, precisa saber postar em rede social, precisa saber ouvir o leitor”, disse Marcelo Soares da TV Folha.

     As redações, que antes contavam com um número grande de jornalistas, hoje são compostas por uma quantidade bem reduzida de profissionais. Quem não se adequa as novas formas de produzir está fora, o mercado de trabalho jornalístico está bem apertado e exige habilidades com o meio digital, com equipamentos tecnológicos, já pré-requisito para exercer a profissão 

Convergência no jornalismo

Jornalismo e Cultura Mobile

A internet modificou o modo de produzir e de consumir informação. Agora, os leitores preferem usar os celulares para se atualizar com as últimas notícias ● Por Bruna Somma, Brenno Carvalho e colaboração de Carolina Danelli



      Com o desenvolvimento da cultura digital na década de 90, os valores, pilares e hábitos do jornalismo passaram por um período de redefinição, sem precedentes. A internet e seu imensurável ciberespaço permitiram a criação de blogs, websites e redes sociais (como Facebook e Twitter) e também propiciaram o avanço das plataformas móveis.

     A junção destas interfaces modificou e impactou, decisivamente, o modo de ver e de fazer jornalismo. Os métodos tradicionais cederam espaço para que a modernidade viesse ensinar algumas lições, que ainda estão sendo apreendidas pelos profissionais e acadêmicos da área. O futuro da profissão e suas respectivas práticas e técnicas ainda é incerto e imprevisível.

     Essas interfaces construídas e propiciadas pela web ocasionaram o fenômeno conhecido como “convergência digital”. Os jornais e mídias de massa precisaram se reformular e tiveram que passar por um processo de letramento digital para fundar suas plataformas online, a fim de não perderem um maior contingente de leitores, e, sim, de alguma forma, fidelizá-los. É difícil ver um jornal impresso, hoje em dia, sem seu site e páginas nas redes sociais, por exemplo.

      Novas possibilidades de construção e consumo do conteúdo foram disponibilizadas, dessa vez em multiplataformas. Reestruturar o jornalismo na internet é saber publicar reportagens de maneira ubíqua, ou seja, como, quando e onde o usuário quiser e necessitar.

     A enxurrada de informação recebida diariamente faz com que a notícia deva ter as seguintes características segundo Luciana Mielniczuk, no livro “Jornalismo e Tecnologias móveis”:

  1. ser fragmentada e viral; 
  2. multimídia; 
  3. personalizada; 
  4. ter aspectos de infoentretenimento 
  5. ser participativa e interativa.

“Você tem uma abundância de informação e uma escassez de atenção”.
– Marcelo Soares, editor-adjunto de audiência e dados da Folha de S.Paulo. 


      O perfil do leitor também mudou. Ele prefere, muitas vezes, informar-se através das telas de smartphones e tablets, do que ler as notícias no impresso. Segundo a Pesquisa Brasileira da Mídia (PBM), realizada em 2015 e encomendada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a SECOM, o Piauí, Ceará e Paraná são os estados com maior adesão às versões on-line dos periódicos, respectivamente com, 39%, 25% e 22%. Amapá, Amazonas e Rio Grande do Sul, são os estados com menor aderência, 2%, 3% e 3%, respectivamente. 


Marcelo Soares defende a qualidade como fator
de escolha nas leituras da era digital. (fonte)
      É o que acontece com o jornal Folha de SP, que tem investido agressivamente nessas novas plataformas. “O leitor fiel da Folha vê muito mais vezes as informações pelo celular, por exemplo, e em visitas muito mais curtas”. Assim explica Marcelo Soares, editor-adjunto de audiência e dados do veículo. A pressa e a falta de tempo podem ser justificativas plausíveis para esse quadro. No entanto, as pessoas não deixam de procurar por conteúdos de qualidade e que possuam credibilidade.





Do Desktop às Plataformas Móveis


     A internet, portanto, foi o ponto de partida para uma significativa mudança estrutural no jornalismo. O primeiro estágio dessa transformação ocorreu, justamente, entre o impresso e o desktop (plataforma digital, com endereços de sites html). No entanto, esse processo de alternância, ao contrário do que muitos defendiam, não durou muito tempo, tendo em vista que a função e o alcance do uso dos smartphones começaram a ganhar força e adquirir uma nova dimensão. Os celulares deixaram de ser apenas instrumentos de telefonia móvel para permitir que seus usuários tivessem fácil acesso à internet, na palma de sua mão e, por isso, pudessem estar em contato e informar-se de maneira cada vez mais rápida e ubíqua.

     A PBM 2015 concluiu que o uso de aparelhos celulares como forma de acesso à internet já compete com o uso por meio de computadores (66%) ou notebooks (71%). O uso de redes sociais possui papel decisivo para se chegar a esse resultado. Entre os internautas, 92% estão conectados por meio de redes sociais, dentre elas o Facebook (com 83%), o WhatsApp (58%) e o YouTube (17%). 

     Os aparelhos móveis popularizaram-se, dessa maneira, por oferecer maior liberdade de expressão tanto para os comunicadores profissionais, como também para o público em geral. Fato que possibilitou o registro e as transmissões ao vivo, em tempo real. O celular tornou-se um objeto convergente, capaz de captar áudios, vídeos, fotografias, modificando clássicas práticas de edição e apuração de conteúdos que foram canonizadas ao longo da história do jornalismo. 

     A fim de não perder os leitores adeptos a essas novas ferramentas, as mídias impressas, sobretudo os jornais, tiveram que passar por uma transposição de conteúdo. O que antes era exposto em folhas de papel, agora é compartilhado em interfaces online, em sites de notícias – denominados de responsivos – feitos exclusivamente para estas plataformas móveis, como os celulares e tablets. 

     A informação para os tablets, contudo, não desencadeou tamanha repercussão. O foco maior é sobre a imbatível tecnologia mobile. Essa é a grande questão e objetivo das grandes empresas de comunicação atualmente. “Nós estamos num período de franca transição. Quando estávamos fazendo a transição do impresso para o desktop, o mobile chegou com toda força. Hoje, mundialmente você já tem o número de leitores mobile superando o desktop, com a gente já até empatado e tem meses que passa o número de usuários ultrapassa. Já chega mais leitores pelo celular do que pelo desktop. O diretor de conteúdo até brinca que o desktop vai morrer antes do papel do jeito que vai indo, o papel vai continuar e o desktop vai acabar”, explica Luís Fernando Bovo, editor para Mídias Digitais do Jornal Estado de São Paulo. 


boom informacional e a colaboratividade


     “Na internet você está concorrendo com todo mundo que quer chamar a atenção do leitor. Você tem uma abundância de informação e uma escassez de atenção”, avalia Soares. Esse paradigma fez com que as pessoas criassem uma necessidade e uma procura incessante por notícias.

     O ritmo de apuração, aprofundamento e pesquisa necessários para escrever e editar uma reportagem de qualidade muitas vezes também não acompanha a rapidez proposta pelo público. 

     Além disso, a internet deu voz aos leitores amordaçados. Se na época dos meios de comunicação de massa, estes eram considerados passivos, na era digital são ativos e possuem livre expressão de suas opiniões e pontos de vistas. Os receptores, agora, podem compartilhar seus próprios conteúdos, opinar sobre o dos outros, como também participar do processo de edição de uma notícia, sugerindo pautas e assuntos a serem abordados por exemplo. Por meio de aplicativos como o WhatsApp, os leitores garantem uma ferramenta de colaboratividade que o aproximam do papel de jornalista. O buraco da sua rua, o trânsito da cidade, um acidente visto sob seu ponto de vista pode virar notícia. É o processo conhecido como “jornalismo cidadão”.


“A gente imaginava que o leitor só entrava pela porta, agora ele entra pela janela”.
– Marcelo Soares, editor-adjunto de audiência e dados da Folha de S.Paulo. 


Novos modos de circulação e consumo


     Segundo a PBM 2015, encomendada para entender como o brasileiro se informa, a televisão continua sendo o meio de comunicação predominante no Brasil. 95% dos entrevistados afirmaram assistir TV, sendo que 73% tem o hábito de assistir diariamente. Esse paradigma, no entanto, vem passando por transformações. 48% já utiliza a internet. O percentual de pessoas que a utilizam todos dos dias cresceu de 26% na PBM 2014 para 37%. O hábito de uso da internet também mudou, tornando-se mais intenso. Os usuários das novas mídias ficam conectados, em média, 4h59 por dia durante a semana e 4h24 nos finais de semana.

     O sucesso da tecnologia mobile pode ser explicado pelo fato de que os leitores passaram a estar em todos os lugares e cada vez mais ávidos pela informação. “A questão é que até muito recentemente, a gente imaginava que o leitor só entrava pela porta, agora ele entra pela janela, pela chaminé, pelo buraco da fechadura, pelo assoalho. Ele vem do jeito que quiser e esse leitor é a maioria”, ironiza Soares, utilizando metáforas para explicar a falta de local certeiro para atingir seu leitor.

     A popularização do fácil acesso à informação por meio das telas dos celulares fez com que a circulação e consumo de conteúdos jornalísticos mudasse de paradigma. Aplicativos foram desenvolvidos somente para privilegiar quem lê as notícias em seus smartphones, e os sites para mobile possuem prioridade de atualização. Muitas vezes até antes do desktop. Tudo para que as reportagens cheguem mais rápido a quem as valoriza e as lê mais rapidamente. Tudo em função de angariar um público maior e ter uma maior repercussão, um feedback positivo. “Dependendo do dia e do horário, fazemos a chamada para o mobile antes de fazer para o desktop. Se for final de semana, por exemplo, não adianta você fazer no desktop o que depois você vai fazer no mobile. Vale mais a pena publicar primeiro no mobile porque todos estão conectados em seus smartphones, raros são os casos de pessoas que estão pelo desktop. Durante a semana, ainda vale postar no desktop primeiro. Então até esse fluxo de trabalho você tem que repensar. Quer dizer: o que eu faço primeiro? ”, questiona Bovo, do jornal Estadão.


Futuro Mobile


     O jornalista atual tem em seu caminho um arsenal de desafios, fluxos e necessidades esperando para serem pensados de forma coerente, correta e criativa. Alternativas para consumir e produzir os sentidos jornalísticos serão intensamente apresentadas tanto nas mídias sociais quanto em dispositivos mobiles. Por isso, a urgência pelo imediatismo jornalístico interfere na qualidade dos assuntos discutidos, pois se trata do jornalismo diário, em estado puro, um cenário ainda novo; diferente do que muitos jornalistas estão acostumados. E agora não só os profissionais, como também os seus leitores, são capazes de espalhar a notícia, facilitando e muito o alcance da informação. De fácil acesso e de modo prático, o “mobile journalism” é o futuro dos produtores de notícias. Retiramos do bolso o que vai dar vida à notícia 


Permanência e inovação nas redações

Por Beatriz Rodrigues e Karen Bandeira



      O que ficou e o que será? Em nossas visitas às redações de jornais e revistas no eixo Rio-SP, com tantas modernizações visíveis nos espaços e rotinas de produção, refletimos sobre o que permanece conduzindo o processo de confecção de pautas, de práticas de apuração, modos de redigir, editar e publicar. Também levamos em conta a decrépita situação de nosso mercado de trabalho, que cada vez mais contrata pessoas mais novas e substitui os seniores, questionando que papéis jornalistas experientes desempenham nesse cenário cotidiano.

     A visão clássica em nosso imaginário sobre as redações de um jornal de grande porte, ancorada pela cinematografia de filmes como Todos os Homens do Presidente, nos remete a aquele espaço imenso, imponente, de um prédio com salas largas separadas por um conjunto de baias, antes marcadas pelas máquinas de escrever e depois pelos microcomputadores.



Anna Wintour, editora-chefe da VOGUE nos Estados Unidos, exemplo desse estereótipo.


     E os editores? Essas figuras respeitadas e temerosas (foto à direita), que se isolavam em aquários de vidro, vigiando a produção e, quando preciso, protegidos por persianas para conversas confidenciais.

     Há bem pouco tempo, apesar da modernização computacional, o cenário era esse mesmo. Mas algo de novo aconteceu. Por dois fatores: um negativo e outro positivo. O negativo não é novidade: um amplo enxugamento das redações. Nesse caso, o que mais vemos hoje são muitas baias vazias, não sendo ocupadas por ninguém. Os diversos “passaralhos” dos últimos tempos estão diminuindo e muito a quantidade de pessoas que trabalham em uma redação de um veículo jornalístico. É a crise do mercado, e a crise do negócio, especialmente durante o ano de 2015.

     O positivo tem relação com um certo pensamento sinérgico e convergente. Com menos pessoas e mais trabalho, com a agilidade de produção necessária para entregar conteúdos tanto para a plataforma digital como para a produção impressa, as redações ficaram mais enxutas e as pessoas mais próximas. 



     O que observamos é que, agora, em muitas redações, não existem mais as baias. São mesas grandes, geralmente sem nenhum tipo de divisão. O editor fica no meio, a fim de facilitar o contato com todos. Outro fato curioso é a localização das mesas de reunião de pauta, que agora ficam no meio da redação. E todas aquelas telas de televisão mostrando diversos conteúdos são mais um componente desse novo ambiente que prima pela proximidade e, dessa forma, agiliza a comunicação entre o próprios jornalistas.

     Nesse contexto, o que mais vale destacar é que as redações de jornais, por exemplo, perderam o foco no famigerado deadline e de uma produção diária toda voltada para a veiculação impressa do dia seguinte, em prol de uma ação mais dinâmica que leva em conta o acervo digital e a necessidade de valorizar mais a internet e entregar conteúdos em temo real.

     Por isso, hoje as redações trabalham com dois times. Os que alimentam os sites, portais e redes sociais logo pela manhã, por isso os primeiros editores começam seu trabalho junto com o galo matinal.  A primeira reunião de pauta é geralmente às 7h e conteúdos são definidos até às 14h, com ampla atenção ao que alimentar em sites, portais e redes sociais. Assim ocorre com o Jornal O Dia, Meia-Hora, O Globo, Jornal Folha de São Paulo e Estado de Sâo Paulo. E os que trabalham para os jornais cuidam do fechamento a partir das 15h.

     E sexta-feira continua sendo o dia do famoso pescoção, em que editores e jornalistas fazem “cerão” para alimentar conteúdo para os fins de semana. Diante dessa realidade, ocorre o deslocamento do foco, antes voltado somente para a produção e agora voltado para a divulgação e compartilhamento. A partir de então, criam-se novos sistemas que viabilizam o diálogo entre fontes, leitores, jornalistas. 

     É o que pensa, por exemplo, Luis Fernando Bovo, editor-executivo de conteúdos digitais do Estadão. “Antigamente, pelo fato de a internet não ser tão enraizada, era mais complicado de saber o que acontecia lá fora e como é que essas informações chegavam aqui. Hoje em dia, esse processo se dá com uma facilidade maior. Você sabe os problemas que os jornais lá de fora enfrentam e são quase os mesmos problemas que a gente enfrenta aqui, logo, as soluções são parecidas”, explica o editor. 

     Um dos fatores que influenciou essa mudança foi a questão do que seria de interesse público ou interesse do público, modificando o olhar jornalístico para o sentido da transmissão de informações. Porém, Bovo revela uma visão curiosa quanto a essa questão do interesse. "Você é responsável pela audiência que tem e não o oposto. Não é ela que vai definir o que você está publicando. É você que tem que educar sua audiência para aquilo que você quer que ela leia. Esse é o papel do jornal. Existem coisas que ue publico no Facebook consciente que vai 0 likes, mas eu não estou preocupado com isso. Nós não produzimos pensando em colocar no Facebook. Olhamos nosso cardápio, o que tem dentro do nosso conteúdo e aí publicamos", afirma o editor.

     Mas ainda assim, muitos fatores da essência do jornalismo permanecem. Pensar em um público-alvo e aperfeiçoar sua linguagem para alcançar mais pessoas e diferentes públicos, incluindo, assim, saber novos tipos de linguagem, novas meios de acesso a informação e quem ele quer informar demonstra uma característica inerente ao jornalismo, o que justifica sua permanência e necessidade para os públicos.

     O melhor exemplo de mudança são as redes sociais que se tornaram um lugar de construção de falas e opiniões. Nesse espaço, o público tem a possibilidade de participar e colaborar com a produção de conteúdos. Uma atividade talvez inimaginável para o jornalismo no século passado, e hoje essa interação é considerada fundamental. 

     “Há alguns anos atrás, os leitores se comunicavam com os veículos por meio de cartas e, a partir do momento em que a redação ficou um pouco mais digital, passaram a mandar e-mails, que agora foram substituídos pelos posts no Facebook.”, relata o editor-chefe da revista Superinteressante, Denis Russo Burgierman.


Cidadãos como prosumers


     A partir da nova ideia de que os cidadãos também são produtores (o que no mundo acadêmico chamamos de prosumers) e, por meio da internet, conseguem emitir informações e opiniões, não se deve compreender esse fenômeno como um desaparecimento do jornalismo profissional e de empresas jornalísticas. Há, com a entrada do público, uma nova riqueza de informações, mais fontes primárias de informação e de opinião, maior possibilidade de aquisição de informação transversal e um reforço do controle social da informação. Tudo isso significa mais um avanço social muito importante, colocando o jornalismo em uma posição fundamental na gestão de informação profissional.


On line e off line: dois espaços distintos?


     A questão não pode ser jornalismo em plataformas impressas versus jornalismo em plataformas digitais. No esquema tradicional do fazer jornalístico exigia-se uma estrutura extremamente complexa. Demandava-se muito tempo para a produção da maioria das matérias devido à dificuldade de se obter as informações desejadas. As pesquisas eram feitas em arquivos em papel, por meio de contatos telefônicos ou pessoais, e tudo isso requeria tempo. 

     Já a cultura digital do século XXI tem o auxílio da internet para agilizar esse processo e da portabilidade e mobilidade dos dispositivos com alta capacidade técnica, o que auxilia sobremaneira na cobertura jornalística em áudio, fotografia e vídeo. Nesse novo momento, vivenciado pela área da comunicação, com as convergências do trabalho jornalístico e utilização cada vez maior das mídias, o novo jornalista se torna cada vez mais multifacetado, com cada vez mais responsabilidades e autonomias. 


As relações entre as gerações


     Geralmente, jornalistas mais jovens são encarregados de exercer multifunções, não só nas redações como também nas ruas. Quando a empresa sente a necessidade de exercer inovações no ambiente de trabalho, os jovens são, muitas vezes, as primeiras opções para as funções que trabalham com conteúdos virtuais e digitais. Um dos motivos para essa escolha seria a facilidade de atuação dos jovens em redes sociais e na web, mesmo fora do campo da comunicação. 

     A utilização de programas de edição e o incentivo de apostar em novas mídias como vídeos estão crescendo a cada momento e, na maioria desses lugares, o jovem possui papel fundamental para o funcionamento dessas áreas. Porém, isso obviamente não nega a atuação de jornalistas seniores na participação de criação desses conteúdos. Dependendo da empresa ou do tipo do jornal, eles podem exercer diferentes funções.



     Fato é que os cargos de chefia ficam ainda nas mãos de jornalistas mais antigos, bem como as editoriais de opinião. Seu trabalho passa a ser mais focado na parte organizacional do veículo, ao possuírem cargos na parte de direção e como editores do conteúdo produzido. Vimos também que a presença dos jornalistas antigos estava concentrada na área de fotografia e pesquisa nas redações. A questão é, seja junior ou sênior, todos os jornalistas tiveram que se adaptar às novas tendências do jornalismo. O avanço tecnológico e, por consequência, a alta demanda e ansiedade do público são os grandes fatores que alteraram esse cenário. Dessa forma, o jornalista do século XXI, nos atravessamentos dessa cultura digital, não está isento do exercício de múltiplas funções. No fim das contas, a idade nada mais é do que um vetor que independe dessa realidade 

Encontro ao acaso: Mino Carta

Em breve entrevista a estudantes de Jornalismo da UFRRJ, Mino Carta faz críticas contundentes à era tecnológica e ao jornalismo nosso de cada dia ● Por Karen Bandeira



     Ao invés de um computador, uma máquina de escrever Olivetti. Essa é a ferramenta principal de trabalho de Demetrio Carta. Aos 82 anos, nascido em Gênova, na Itália, veio para o Brasil em meados da década de 40 com seus pais e dez anos depois começou a construir sua história na imprensa do país. Dentre suas principais atuações como jornalista, dirigiu as revistas Quatro Rodas, Veja, IstoÉ, o Jornal da Tarde e atualmente é o diretor de redação da revista Carta Capital. Multifacetado, não se rende à tecnologia. Assim, Mino Carta continua desenvolvendo com maestria seu trabalho, depois de 50 anos de profissão, sem se aproximar do computador e, como ele mesmo denomina, sua “bocarra sinistra”.

     Como sabemos disso? O destino nos pregou uma peça, quando numa manhã nublada de uma quinta-feira (20/08/15), chegamos à redação da revista Carta Capital, próxima à Avenida Paulista, em São Paulo, e fomos acolhidos pelos profissionais que lá estavam.  A missão de nossa equipe, nessa visita agendada com dois meses de antecedência, era entrevistar somente os jornalistas que editavam a publicação mensal e trabalhavam na TV Carta

     Para nossa surpresa, enquanto todos estavam atentos à entrevista com o redator-chefe da revista, Sérgio Lírio, eis que adentra a figura incólume de Mino Carta pela redação. Definitivamente, não imaginávamos que ele ainda trabalhava in praesentia, achávamos que escrevia editoriais e matérias de sua casa.

     Como se não bastasse a surpresa, minutos após sua chegada, ouvimos o som da máquina de escrever. Lá estava Mino, datilografando o editorial da revista da semana seguinte. Impulsionados pelo espanto, fizemos algumas fotografias (com a permissão dele, claro!), a fim de registrar aquele momento histórico para nossa vida de estudantes de jornalismo. 

     Alguns minutos depois fomos agraciados com a possibilidade de entrevistá-lo. Para a equipe, uma honra, considerando toda sua trajetória. Mino Carta, que recebeu o título de Honoris Causa pela Faculdade Cásper Líbero, chegou a cursar alguns períodos de Direito na Universidade de São Paulo (USP), porém não continuou o curso ao notar que sua legítima área era a de comunicação. Além ser muito experiente nas redações, já publicou cinco livros. “Histórias da Mooca, com as bênçãos de San Gennaro” (1982), “O Restaurante Fasano e a Cozinha de Luciano Boseggia” (1996), “O Castelo de Ambar” (2000), “A Sombra do Silêncio” (2003) e “O Brasil” (2013).

     Também recebeu dois prêmios Esso de Jornalismo. O primeiro (1964), na categoria “Regional – Grupo A” pela matéria São Paulo publicada na revista Quatro Rodas e o segundo (1966), na categoria “Prêmio Esso de Equipe”, pela obra Casamento de Pelé, publicada na primeira edição do Jornal da Tarde. Além desses prêmios, em setembro de 2006, foi premiado com o Borgo Val di Toro, em Parma (Itália) e em outubro do mesmo ano recebeu o prêmio de Jornalista Brasileiro de Maior destaque do ano, da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira no Brasil (ACIE).

     Como pupilos em torno do mestre, sentamos todos ao seu redor e ele, no meio. O momento também foi registrado pelos outros jornalistas da redação, com admiração e reverência.

Mino Carta

     Durante a entrevista, em súmula, o que mais nos chamou a atenção na breve fala de sete minutos, concedida aos estudantes e professores de Jornalismo da UFRRJ, foi seu olhar perante as tecnologias. Ele abre suas considerações com um desabafo:

Talvez por causa da minha idade provecta (avançada), eu não tenho o menor achego ao computador. O computador serve para distanciar as pessoas. Em lugar de aproximá-las, só serve para emburrecê-las e distanciá-las. O emburrecimento é transparente. Lê-se cada vez menos. (...) Eu realmente nunca me aproximo do computador porque receio que ele me emburra, com a sua bocarra sinistra. Então eu sou definitivamente um ser batido, derrotado, isso é óbvio pelo avanço.

     Outro ponto destacado pelo sênior jornalista foi sobre a riqueza da cultura e a necessidade de se valorizar a Língua. “O bom uso do vernáculo é decisivo na história de um ser humano. É a única maneira de dizer que estamos vivos”, enfatizou.

     Mas novamente retorna à questão da tecnologia, ao criticar até o sedentarismo dos jovens, que vivem entregues aos “aparelhinhos”. Para Mino Carta, os dispositivos tecnológicos inibem os estudantes de estudar e, para ele, também não estamos mais aprendendo a escrever. Diz que se sente vencido e derrotado pelo avanço tecnológico, que, em sua visão, significa “atraso e um caminho para a desgraça” (todos riem nesse momento). 

     Até fez alusão a Umberto Eco, ao destacar um dos seus axiomas: “A decadência do mundo começa pelo fato de que todos, indistintamente, todos os seres humanos dizem, comunicam, informam a respeito da sua opinião”. Para ele, tais opiniões seriam, em sua maioria, “besteiras inomináveis”. 

     Quando questionado sobre as diretrizes da revista, explicou que a publicação “navega com dificuldades”, visto que claramente seus participantes adotam linhas editoriais diferentes do convencional, do mainstream. “Somos perigosamente subversivos. Em um país que progressivamente se imbeciliza com extremo prazer, com dedicação a estupidificação geral”, lamentou. 

     Em relação aos jornais brasileiros, não hesitou em dizer que são os piores do mundo, com suas mentiras e invenções (Mino tirou, nesse momento, gargalhadas de todos).

     Perguntamos a Mino Carta que conselho daria aos jovens jornalistas, em início de carreira. E assim ele se colocou: 

Não dou conselhos. Mas por uma razão muito simples: onde é que eles vão trabalhar para praticar o jornalismo? Vão trabalhar para os barões midiáticos. Essa mata infecta de gentalha inominável. Um Roberto Marinho da vida, um Roberto Civita da vida. Esses são os senhores para os quais vocês terão que trabalhar. Eu vou dar conselho como? 

     Terminou seu discurso fazendo um convite à revolução, com ressalvas: “Mas no Brasil, o país da casa grande e da senzala, antes que aconteça uma revolução, devem passar alguns séculos” 


Reportagens multimídia: técnica do "snowfall"

O jornalismo contemporâneo trouxe a necessidade de atualizar os formatos e inovar nos procedimentos já existentes na construção de reportagens ● Por Cecilia Damasceno e Thiago Silva



      Já não é novidade que o jornalismo na Web 3.0 precisa se reinventar quase diariamente. Com a necessidade da atualização instantânea de informações e de recursos multimídia para prender a atenção do usuário, a produção de notícias deixou de ser simplesmente o processo de transformar o material apurado em texto pronto para ser apreciado para o leitor.

      Agora, na era da convergência, o jornalista precisa ser muito mais dinâmico e se transportar para o papel de profissional multitarefa: em uma redação de web, elaboração de pauta, apuração e confecção do texto andam juntos, e não para por aí. Com o banco de informações disponíveis online, é via de regra qualquer matéria criada para sites possuir hiperlinks, redirecionando para arquivos do próprio site ou de sites externos, para vídeos, podcasts, galerias de imagens. Em suma, qualquer recurso que possa aprofundar o conhecimento do leitor sobre o assunto e transformar a leitura numa experiência imersiva.

      Coordenador de conteúdo e editor-chefe da TV Estadão, Felipe Araújo comenta como o processo de produção funciona hoje nas redações. “Antes da reunião geral de segunda, fazemos uma reunião da TV Estadão, nesse momento, começamos a fazer pautas nossas. A maioria da equipe é formada por jornalistas, que estão sempre bem antenados. Eles ficam até um pouco frustrados por não poderem escrever. E, com isso, acabam surgindo pautas muito boas para o impresso, que eu até repasso para redação. Assim, produzimos foto, impresso e vídeo, e o material fica todo sincronizado”, explica.

      A discussão em torno do “meio ideal” de se fazer jornalismo para web cresceu nos últimos anos, e não foram poucas as proposições que surgiram para tentar responder a essa questão. Quando um assunto ganha destaque e merece aprofundamento, a chamada técnica do snow fall é correntemente citada como o caminho mais multimídia.

      Elaborada pelo The New York Times em 2012, a reportagem “Snow Fall: the avalanche at Tunnel Creek” relata o desenrolar de uma avalanche de neve, em fevereiro do mesmo ano, que matou três dos 16 atletas profissionais que praticavam snowboard nas montanhas Cascade, localizadas no estado de Washington. Unindo áudio, vídeo, imagem, animação e texto, o jornal decidiu reconstituir a nevasca, utilizando-se dos recursos multimídia para criar uma atmosfera capaz de inserir o internauta dentro do acontecimento.

      A versão final da reportagem foi disponibilizada online em dezembro de 2012 e não demorou a ser reconhecida mundialmente. No ano seguinte, ganhou o prêmio Pulitzer, passando a ser apontada como modelo ideal para a construção dessa modalidade: a reportagem multimídia. A inovação do The Times destacou-se não só pelo formato, como também pela apuração detalhada, pela contextualização da tragédia e pelas possibilidades de interação oferecidas aos usuários.

      Verdade seja dita, no entanto, as reportagens no estilo snow fall são caras, pois envolvem profissionais de diversas áreas, e demandam um tempo que, na correria cotidiana das redações, raramente pode ser empregado na produção de uma só matéria. Para o jornalismo factual, do dia-a-dia, ainda se mostra mais fácil a transposição de conteúdos já existentes (como vídeos e fotos, muitas vezes feitos para as versões impressa ou televisiva do veículo) para enriquecimento o texto. 

      A reportagem do The Times levou cerca de seis meses para ser completamente estruturada e ficar pronta para ir para o site. Além do repórter idealizador da inovação, John Branch (foto à direita), 11 especialistas em gráficos e design, um fotografo, três editores de vídeo e uma colaboradora de pesquisa foram indispensáveis para a produção, encarecendo o processo pela variedade de especializações. Mesmo a editora-chefe do jornal, Jill Abramson, admitiu que o veículo não está pronto para produzir reportagens multimídia em série – apesar de frisar que esta é a direção.

      “As redações, se for comparar com alguns anos atrás, estão cada vez mais enxugando. Não só enxugando, mas também triplicando o nosso trabalho. Antes, eu pensava só em foto ou só em texto. Hoje, tenho que pensar fotos, texto e vídeo. Vou fazer uma viagem agora e estou tentando levar outro jornalista junto comigo. Vamos produzir uma matéria especial, que é multimídia, sobre O Caminho de Santiago (vídeo abaixo). É um diário de bordo, com histórias de peregrinos. Vamos mandar diariamente pequenos textos para a home do Estadão. Vamos usar tudo, texto, fotos e vídeo, um chamando o outro. No final, faremos um mini-doc”, conta Felipe Araújo.

Exemplo de vídeo produzido pela TV Estadão, especificamente sobre o caminho de Santiago da Compostela.

Polêmicas


      Há controvérsias entre os pesquisadores do assunto sobre a eficiência da técnica de narrativa snow fall. Sem colocar em discussão o aspecto estético, aclamado de forma unânime, há quem aponte que os recursos tomam o lugar da informação em reportagens desse tipo. Em outras palavras, o usuário se prende pelo encanto da interatividade com os conteúdos, mas deixa de prestar atenção total ao fato narrado, que é, afinal de contas, o objetivo principal a ser alcançado com uma matéria.

      Por outro lado, a lógica atual da internet funciona, em grande parte, de acordo com a viralização dos conteúdos. Se determinada publicação agrada ao leitor, ele a compartilha com seu círculo de amizades, tornando-a disponível para um número maior de internautas, que por sua vez têm a oportunidade de tornar a compartilhar ou não. No caso de reportagens multimídia seguindo a técnica de snow fall, o fluxo de compartilhamento pode servir bem à disseminação do conteúdo, uma vez que o usuário é conquistado pela inovação no formato.

      A interatividade proporcionada pelos novos formatos jornalísticos virtuais, em especial os que englobam os recursos multimídia, comprovadamente desperta o interesse do internauta. A possibilidade de não somente ler uma matéria, mas também interagir com os conteúdos disponíveis e sentir-se inserido no relato é uma nova face do jornalismo trazida pela web, que aos poucos já se torna algo naturalizado para os internautas dos dias de hoje. Dificilmente se encontra uma matéria em um portal jornalístico que não contenha um vídeo relacionado, por exemplo, porque já causa estranhamento ao usuário se deparar somente com texto ao abrir um link de uma notícia que o interessou. 

      A integração de tipos diferentes de mídia construindo um modelo totalmente novo em relação aos já disponibilizados pelos formatos tradicionais enriqueceu o estilo de reportagem para web e consolidou-se como se principal diferencial em relação aos estilos de TV, rádio e impresso. Apesar de ainda bastante distante da técnica utilizada em reportagens como a snow fall, a multimidialidade no jornalismo virtual contemporâneo já se tornou um artifício básico na elaboração de um portal de notícias que se pretenda a ter grande número de visualizações.
Luís Fernando Bovo afirma que a leitura não depende
do tamanho do texto, porém de seu conteúdo.

      Luís Fernando Bovo, editor-executivo de conteúdos digitais do Estadão (foto à direita), acredita que o leitor se interessa pela matéria quando encontra conteúdo de qualidade e com bom desenvolvimento: “Publicamos matérias longas, e muitos criticam dizendo que, hoje, ninguém lê texto longo. Mentira! A coluna da Eliane Brum é uma das mais lidas. O público lê os textos dela inteirinhos, porque são legais. Essa é a questão. Se o seu conteúdo for legal, as pessoas vão ler a matéria completa. Pode ter certeza que, se você conseguir fazer uma reportagem interessante e atrativa, ela não vai ser só lida, como também compartilhada”, avalia.

      O caminho coerente a se seguir é reafirmar de forma definitiva o uso crescente dos recursos multimídia nas produções diárias dos portais de notícia. A elaboração de matérias mais criativas e mais integradas à narrativa verticalizada dos multiformatos, mais que uma adaptação do jornalismo às inovações, apresenta-se como uma forma de se opor à banalização da informação pela informação, à atualização instantânea como carro-chefe da lógica do fazer jornalístico atual.


“Criticam dizendo que, hoje, ninguém lê texto longo. Mentira!”
Luís Fernando Bovo, editor-executivo de conteúdos digitais do Estadão.


O destaque brasileiro


      Exemplo brasileiro na produção de reportagens em snow fall, o portal de notícias NE10 é reconhecido nacionalmente pela inovação na produção de jornalismo digital e conteúdo imersivo. Consolidando a produção online de notícias do Jornal do Commercio de Pernambuco, o site já chega à internet, em 1997, pensando nas ferramentas necessárias para a navegação do usuário – imagens, links e layout próprio – o que não era comum na época.  

      Em razão do constante processo de evolução, o portal reúne prêmios locais, nacionais e internacionais, sendo muitas dessas premiações destinadas as reportagens especiais, que são destaque pelo enfoque e aprofundamento do tema, além do uso preciso dos recursos multimídias.

      A série de reportagens “Foi mais que 7x1” é um dos destaques mais recentes, ficando em segundo lugar, na categoria Online, da 32ª edição do prêmio nacional de Direitos Humanos de Jornalismo. O especial mostra as feridas sociais, que as obras para a Copa, deixaram um ano depois.

      Conhecido por reafirmar a cultura nordestina, o NE10 produz também reportagens em snow fall homenageando ícones da história pernambucana. Entre elas estão: “Imortal – Ariano Suassuna” e “Abelardo – A Hora da Despedida”, matérias especiais que recontam a vida desses artistas fundamentais para a cultura brasileira.


Medium: uma plataforma amigável para publicações


      Há na internet movimentos para democratizar o acesso a informação e a produção de conteúdo. Com esse intuito, em agosto de 2012, foi lançada o Medium, uma união de rede social e publicador de conteúdo.  

      O Medium é uma plataforma gratuita que possibilita ao usuário a produção de artigos seguindo as características que uma reportagem em snow fall. Essa ideia rompe com a convenção de que apenas veículos de impressa, que dispõem de dinheiro e mão de obra, podem produzir matérias especiais multimídias.

      Por não possui todas as ferramentas imersivas das grandes reportagens em snow fall, a rede social traz uma experiência simples e inovadora aos usuários. Para os criadores do Medium, o importante é o que o internauta tem a dizer. "O Medium é um lugar para as pessoas dividirem ideias e histórias importantes", afirmou Gabe Kleinman, gerente de recursos humanos da plataforma, à Exame.com.

      Durante 2015, o Medium foi destaque como fonte alternativa de informações, por exemplo, a cobertura feita pelo coletivo Jornalismo Livre sobre o rompimento da barragem de rejeitos em Mariana, Minas Gerais, dando voz para os moradores contarem suas histórias.


Alguns exemplos tupiniquins



Especial da TV Folha sobre a construção da usina de Belo Monte.

      O jornalismo brasileiro não deixa a desejar quanto a produção de reportagens em snow fall, dedicando o uso dessa técnica para matérias mais complexas e para relembrar fatos históricos. O empenho dos jornalistas, conjuntamente com fotógrafos, programadores e designer, gerou as reportagens a seguir, que têm reconhecimento nacional e internacional.